SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 
DIÁLOGOS NO TEXTO POÉTICO
Nesta Situação de Aprendizagem, o texto poético é tratado como reflexão sobre o mundo –
tendo como referencial o que herdamos do movimento literário romântico.
Para começo de conversa
Inicialmente, vamos acompanhar a letra da música Fora da ordem, de Caetano Veloso.
1. Antes disso, discuta oralmente, sob a orientação do professor:
a) O que lhe sugere o título da música Fora da ordem?
b) O que lhe parece estar “fora da ordem” ao seu redor?
c) A poesia e a música devem abordar problemas políticos e sociais? Por quê?
Fora da ordem
Caetano Veloso
Vapor Barato, um mero serviçal do narcotráfico,
Foi encontrado na ruína de uma escola em construção
Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína
Tudo é menino e menina no olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua
Nada continua
E o cano da pistola que as crianças mordem
Reflete todas as cores da paisagem da cidade que é muito mais bonita
E muito mais intensa do que um cartão-postal
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Escuras coxas duras tuas duas de acrobata mulata,
Tua batata da perna moderna, a trupe intrépida em que fluis
Te encontro em Sampa de onde mal se vê quem sobe ou desce a rampa
Alguma coisa em nossa transa é quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova, parece fogo, parece, parece paz
Parece paz
Pletora de alegria, um show de Jorge Benjor dentro de nós
É muito, é grande, é total
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Meu canto esconde-se como um bando de ianomâmis na floresta
Na minha testa caem, vêm colar-se plumas de um velho cocar
Estou de pé em cima do monte de imundo lixo baiano
Cuspo chicletes do ódio no esgoto exposto do Leblon
Mas retribuo a piscadela do garoto de frete do Trianon
Eu sei o que é bom
Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem
Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
© Uns Produções Artísticas Ltda./Natasha Enterprises Ltda.
Vocabulário:
ganido: ga·ni·do 
substantivo masculino
1. Voz lastimosa do .cachorro.
2. [Figurado]  Voz esganiçada.
trupe: tru·pe 
(francês troupe)
substantivo feminino
1. Grupo de artistas que .atuam em conjunto. = COMPANHIA
2. Conjunto de apoiantes ou seguidores.
3. [Depreciativo]  Conjunto de pessoas consideradas desprezíveis. = CANALHA, CORJA
4. [Regionalismo]  Grupo de estudantes, em Coimbra.
intrépido:in·tré·pi·do 
(latim intrepidus, -a, -um)
adjetivo e substantivo masculino
1. Que ou o que não trepida.
2. Que ou o que não tem medo. = AUDAZ, CORAJOSO, RESOLUTO ≠ .COVARDE, MEDROSO
pletora: ple·to·ra |ó| 
substantivo feminino
1. [Medicina]  Superabundância de humores ou sangue.
2. [Botânica]  Estado de uma planta à qual um excesso de alimentação impede de dar flores e frutos.
3. [Figurado]  Mal-estar causado por excesso de vida ou de .atividade fisiológica.
BIOGRAFIA COMPLETA DE CAETANO VELOSO
• Nome Caetano Veloso
• Idade 68 anos (07/08/1942)
• Naturalidade Santo Amaro da Purificação (BA)
• Signo Leão
• Status Separado
Caetano Veloso demonstrou talento para a arte ainda na infância, no interior da Bahia, mas foi em Salvador que se tornou músico. Influenciado pela bossa nova, foi um dos criadores do movimento que se tornou a MPB. Destacou-se pelas canções de protesto contra a ditadura militar. Foi preso e exilado. Um dos artistas mais influentes de sua geração, continua ativo, compondo, fazendo shows e gravando. Foi casado duas vezes, com Dedê Gadelha e Paula Lavigne. Tem três filhos.
BIOGRAFIA
Caetano Velloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, sendo o quinto dos oito filhos de José Teles Velloso, funcionário público dos Correios, e Claudionor Viana Teles Velloso (Dona Canô) - nascidos no começo do século 20. Na infância, Caetano já demonstrava seu talento para arte, música, desenho e pintura, tendo um gosto especial pelo "rei do baião" Luiz Gonzaga e sambas de roda. Este mesmo interesse inspiraria, anos mais tarde, o nome de sua irmã, Maria Bethânia, baseado em uma famosa canção da época interpretada por Nelson Gonçalves.
Em 1960, aos 18 anos, Caetano mudou-se com a família para Salvador, onde aprendeu a tocar violão e começou a se apresentar em bares e casas noturnas. Com forte influência de João Gilberto, o artista interpretaria diversas canções da bossa nova e colaboraria com o nascimento de um estilo musical que mais tarde seria conhecido como MPB (Música Popular Brasileira). O nome do cantor ficou inicialmente associado ao movimento hippie e à fundação do movimento Tropicalista no Brasil.
Seu primeiro trabalho musical foi uma trilha sonora para a peça teatral “Boca de Ouro”, do escritor Nelson Rodrigues. Entretanto, o cantor seria lançado ao cenário nacional durante a Faculdade de Filosofia da Universidade Federal, quando sua irmã Bethânia gravou uma canção de sua autoria no primeiro disco “Sol Negro”, em que fazia um dueto com Gal Costa. Em 1965, Caetano lançava o seu primeiro compacto com as músicas “Cavaleiro” e “Samba em Paz”. Seu primeiro disco gravado, em parceria com Gal, foi “Domingo”. Produzido por Dori Caymmi, o trabalho contou com o primeiro sucesso de Caetano: a canção “Coração Vagabundo”.
Desde o início da carreira, o artista nunca fez questão de esconder sua posição política. Por sua participação na criação do Tropicalismo, um movimento considerado subversivo no Brasil da ditadura, teve algumas músicas censuradas ou simplesmente banidas no ápice do regime militar. Ficou em quarto lugar no 3º Festival de Música Popular Brasileira com a música “Alegria, Alegria”, mas, em dezembro de 1968, após realizar uma cena marcante no Festival Internacional da Canção com o “É Proibido Proibir”, foi preso com Gilberto Gil. Os dois eram acusados de desrespeitar o hino e a bandeira nacional. Libertados em fevereiro de 1969, seguiram para Salvador onde ficaram confinados. No mesmo ano, após dois shows de despedida no Teatro Castro Alves, partiram para o exílio na Inglaterra. O espetáculo, precariamente gravado, resultou no disco “Barra 69“.
Em 1972, Caetano Veloso retornou ao Brasil. Anos depois, em 76, lançou o disco “Doces Bárbaros”, que levou o nome da banda idealizada por sua irmã, Bethânia, com Gilberto Gil e Gal Costa,. Embora o álbum seja hoje considerado uma de suas grandes produções, o trabalho recebeu duras críticas na época. O músico também deu continuidade ao movimento tropicalista que surgia sob a influência de correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira.
Nos anos 70 Caetano compôs músicas de sucesso como “Tigresa”, “Odara”, “Leãozinho” e “Sampa”.
Em 1984, Caetano lançou o disco “Velô”, acompanhado pelos músicos da Banda Nova. A década seria marcada por lançamentos e shows maiores no exterior. Dentre as gravações mais representativas deste período, figuram “Os Outros Românticos“, “O Estrangeiro“, “O Ciúme“, “Eu sou Neguinha“, “Outras Palavras“, “Eclipse Oculto“, “Luz do Sol“, “Queixa“, “O Quereres", “Trem das Cores“, “Língua” e “Podres Poderes“.
O cantor mergulhou nas letras também para relatar as lembranças do Tropicalismo. Em 1997, escreveu o livro “Verdade Tropical” (editora Companhia das Letras), ao mesmo tempo em que lançou o CD-Livro elogiado pela crítica e indicado ao Grammy Latino na categoria World Music. Em 2002, Caetano publicaria outro livro sobre a Tropicália, “Tropicália: uma história de música e revolução no Brasil”. Dois anos depois, seria considerado um dos mais respeitados e produtivos pop stars latino-americanos, com mais de 50 álbuns lançados e canções que se tornariam famosas como trilhas sonoras de filmes como o “Fale com Ela”, “Frida” e “Lisbela e o Prisioneiro”.
Em 2008, Caetano mostrou que ainda estava a pleno vapor, estreando o show "Obra em Progresso", com canções inéditas. O espetáculo foi apresentado apenas no Rio. Entre as músicas novas estão: “Falso Leblon“, “Lobão tem Razão“, “Perdeu” e “Base de Guantánamo“ - gravadas em disco e lançado no ano seguinte com o título de "Zii e Ziê".
Eixos:
1. Análise crítica (fichamento)
ORDEM E DESORDEM EM "FORA DA ORDEM", de Ivã Carlos Lopes E Luiz Tatit
"Desde a eclosão do movimento bossa-nova, em 1958, a canção popular brasileira vem atraindo a atenção, não apenas da forte indústria de entretenimento instalada no país, mas também de boa parte da elite cultural que hoje lhe reserva o papel artístico e social anteriormente concedido apenas à literatura e às artes eruditas em geral. Essa condição especial não pode evidentemente ser desvinculada dos grandes artistas que emprestaram ou vêm emprestando o seu talento para a criação de um repertório musical cuja originalidade e qualidade já são reconhecidas em todo o mundo: Tom Jobim, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano Veloso etc." p. 87
"Nesse texto, a exemplo de outras letras de Caetano Veloso, vê-se uma sucessão de figuras que compõem um duro quadro urbano do Brasil de dez ou doze anos atrás. São três estrofes pontuadas pelo dístico do refrão: “Alguma coisa está fora da ordem / Fora da nova ordem mundial” . De uma estrofe a outra, a perspectiva tornasse progressivamente mais embreada, no que diz respeito aos atores: iniciada por dois versos em estilo jornalístico, a primeira estrofe instala uma cena do enunciado em terceira pessoa, embora ancorada no aqui/agora enunciativo, em que se relatam faits divers do cotidiano das grandes cidades brasileiras. Na estrofe seguinte, focaliza-se um par amoroso, o narrador dirigindo-se a um “ tu” , a “acrobata mulata” que forma com ele um “nós” em situação de intimidade. Embreada já em primeira pessoa, a última estrofe centra a atenção nesse “eu” , a observar situações de degradação social em diferentes cidades. O espetáculo da deterioração das condições
de vida não impede esse observador, porém, de acenar, em pontos esparsos, com algum gozo, seja de ordem sensual (a “acrobata mulata” , suas coxas, sua batata da perna; o garoto de frete do Trianon), seja de ordem artística (o “show de Jorge Ben Jor dentro de nós” ).
É fácil reconhecer um certo número de “ taras sociais” que, à época, chamavam a atenção da nação para um processo de degradação especialmente, mas não exclusivamente, das cidades. Caetano inclui na letra menções a incidentes do cotidiano tais como, no âmbito urbano, o episódio de um policial que, durante uma blitz, obriga um menino de rua a manter o cano de seu revólver dentro da boca, ou, na floresta, os índios ianomâmi do extremo noroeste da Amazônia constrangidos a recuar perante a invasão de suas terras por garimpeiros migrados de outras regiões do país.
A rapidez dos processos de transformação das grandes cidades no Brasil, em comparação com o que sucede em outros países — há alusões às cidades de São Paulo, Brasília, Salvador, Rio de Janeiro — está figurativizada pela construção e pela ruína, par que podemos tomar como uma chave aspectual para a leitura dessa canção e, ao mesmo tempo, como indicador de uma instância (aspectual) mais
profunda cujas propriedades categoriais permitem instituir as operações semisimbólicas que tornam compatíveis entre si o plano da expressão e o plano do conteúdo:
Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína
São dois aspectos encavalados: o pré-incoativo (construção) e o pós-terminativo (ruína), que se imbricam (como ocorrerá a imbricação métrica dos versos finais de estrofe) porque falta a duratividade que poderia mantê-los separados:
Nada continua" p. 91-92
"O que Caetano Veloso denuncia, finalmente, é a precipitação dramática do ciclo de ruína em pleno curso de um processo que parecia ainda ser o de construção", p. 94
"(duração e espaço). É o que se verifica na primeira estrofe. Pulverização da duração (“Nada continua” ), bem como encolhimento do espaço: todas as cores da paisagem da cidade são comprimidas no cano da pistola mordida pelas crianças. Não é, contudo, a narratividade que salta aos olhos nessa canção, e sim a força das figuras arroladas, que pintam um panorama predominantemente sombrio da nação  naquele momento; mesmo nos trechos com maior presença de transformações narrativas, como a primeira estrofe, essas transformações encontram-se a serviço da caracterização
de um “estado de coisas” , e não valem nunca por si mesmas. Nossa hipótese é simplesmente que a narratividade fica obliterada pela falta de duratividade (“Nada continua” ) a que acabamos de fazer alusão: tudo está atropelado demais para que seja possível reconhecer uma narratividade dotada de fases distintas, umas após outras. Em decorrência disso, a disjuntividade predomina — como experimentar a conjunção, quando não há duração controlável para que o sujeito possa senti-la? —,
e é somente através de lampejos circunscritos que se vislumbra, aqui e ali, a possibilidade de conquistar estados conjuntivos. O sentimento de “disparada”4 tem sido uma constante nas descrições do Brasil quando observado por olhos estrangeiros, e em particular europeus, desde há muito. Está ilustrado exemplarmente pelo psicanalista italiano Contardo Calligaris, que, tendo vivido algum tempo no país, publicou, no mesmo ano do lançamento do CD Circulado, um livro intitulado Hello Brasil/, com impressões suas acerca da nossa vida social. Nele, o autor evoca a “notável aceleração
da vida brasileira” e a “pressa de viver” que nos caracterizaria como povo, chegando a falar na “ forma de vida” local em termos de “uma corrida para o gozo e a morte” (p. 96).5 Esse frenesi de uma vida excessiva na ordem da intensidade e insuficiente na ordem da extensidade é reportado por Caetano Veloso no caso que nos interessa, mas com a condição de percebermos que, no compositor baiano, o quadro se complexifica, tornando impossível ou vã qualquer rotulação global que tentasse abarcar com uma única solução de conjunto aquilo que ele está observando.
Diversos traços singularizam a segunda estrofe, dando-lhe um caráter de “ ilhota eufórica” dentro de um panorama globalmente disfórico. Sob o ponto de vista da aspectualidade profunda, aparece aqui uma fluidez que contrasta com os tropeços verificados em outras partes: “... a trupe intrépida em que fluis” . À conjunção narrativa (“ Te encontro em Sampa.. .” ) responde uma figuratividade de exaltação, com a beleza física da “acrobata mulata” — a alusão à “trupe intrépida” à qual pertence essa personagem remete a um grupo circense-teatral carioca explicitamente homenageado pelo compositor, a Intrépida Trupe — e o show “ internalizado” de Jorge Ben Jor, formando uma configuração temática de prazer e alegria também marcados pelo excesso (“Alguma coisa em nossa transa é quase luz, forte demais [...] Pletora de alegria” ; “ É muito, é grande, é total” ). Soma-se a isso o fato de não aparecer aí, ao menos não de maneira tão evidente, a concessividade manifesta das estrofes 1 e 3. Concessão, na estrofe 1: “Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína” , onde
esse “e” traduz-se por um “... e, no entanto,...”— ou seja, embora tudo pareça construção, é ruína; embora haja o horror da cena do policial enfiando o cano da pistola na boca das crianças, esse cano reflete belas cores da paisagem da cidade. Na estrofe 3: “Cuspo chicletes do ódio no esgoto exposto do Leblon/Mas retribuo a piscadela do garoto de frete do Trianon” — ou seja, embora se esteja num ambiente deteriorado e sujo, há a possibilidade de um gozo “de frete” . Em suma, a segunda estrofe destaca-se do conjunto, fazendo contraponto, sob vários aspectos, ao primeiro e ao terceiro trechos da letra. Existe uma senha para essa singularidade da segunda estrofe: a palavra ordem do título aparece, em cada estrofe, incluída numa palavra mais extensa. Na primeira, é “mordem” e, na terceira/concordem” , ambas na posição final do penúltimo verso, preparando a rima para o primeiro verso do refrão, do mesmo modo como o último verso da estrofe fornece a rima para o segundo do refrão. Já na estrofe intermediária, a senha vem anagramatizada em seu segundo verso, dentro da palavra “moderna” , não em posição final, mas pelo meio do verso, e sobretudo não na ordem normal mas, desta vez, fora da ordem. Nem por isso podemos recortar a canção em dois blocos, contrapondo o conjunto constituído pelas estrofes 1 e 3 à estrofe 2: se, do ponto de vista das emoções, a primeira estrofe é marcadamente disfórica e a segunda reúne figuras da euforia, a terceira já é mais ambivalente a esse respeito, como se mesclasse ambos os juízos em um agridoce que não permite definir um “juízo final” acerca do que está retratando.
Qualquer que seja o plano de análise em que nos situemos, portanto, não podemos nos contentar com caracterizações “em bloco” , inteiriças, para a interpretação de “Fora da ordem” . Aquela concessividade que identificamos já na primeira estrofe estende-se por toda parte e, numa canção que evoca uma “disparada” que impede a experiência, pelo sujeito, de um estado juntivo, convida-nos a desacelerar o olhar descritivo, para não perdermos de vista a complexidade dos juízos aí presentes. Se a primeira estrofe é dominada por figuras de miséria e horror, ela não deixa de assinalar a “beleza” e “ intensidade” da paisagem urbana tragicamente refletida no cano do revólver mencionado acima. Analogamente, na terceira estrofe prevalecem as imagens de despossessão (ianomâmi) e de poluição urbana, e no entanto vem a promessa de gozo sexual com o “garoto de frete do Trianon” . Embora mais homogênea que as demais, a estrofe intermediária, basicamente eufórica, não deixa de incluir aquele “ Sampa, de onde mal se vê quem sobe ou desce a rampa” , onde se marca, no mínimo, uma dificuldade de conjunção cognitiva, estando o observador mal capacitado, em São Paulo, para acompanhar o que se passa no cerne do poder político federal (alusão ao ritual de posse, em Brasília, dos presidentes da República).
As versões do refrão em outras línguas, ao final da gravação, conferem expressão mais clara a algo que já se adivinhava. Versão inglesa: “ It seems that something has gone out of order / Out of new world order” . Aquém da evidente remissão à situação de hegemonia norte-americana sobre o conjunto do planeta (chamada pelos governantes americanos de “New World Order” e que equivale mais ou menos a dizer... Brave New World), crescentemente afirmada desde o desmoronamento do bloco soviético e a Guerra do Golfo, no limiar dos anos 1990, é preciso atentar para o valor tensivo da expressão out of order, usada para qualificar um mecanismo ou uma máquina em pane: parada de um dispositivo que já não funciona direito, de um mecanismo bloqueado. A canção escancara feiúra e violência dentro de um quadro pintado em tons de rosa pelo “pensamento único” imposto de cima para baixo. Isso posto, e tendo-se inserido dentro da cena ao lado dos atores do enunciado, na embreagem actorial da terceira estrofe, o “eu” volta a valorizar a pluralidade de vozes/ opiniões (“Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem” ) e acena com as “diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final” , possibilidades de conjunção não num virtual momento de transcendência última (“juízo final” ), mas nesse mesmo mundo perturbado em que ele encena sua própria presença." p. 95 a 97
"Para concluir O disco Circulado, de que faz parte a canção aqui destacada, foi elaborado numa época em que Caetano se indagava, contra o pano de fundo da propalada “nova ordem mundial” , sobre a viabilidade do Brasil como projeto. Segundo um depoimento seu à revista La Maga (Buenos Aires, 29 de abril de 1992), “ Fora da ordem” pretende ser “o veículo de uma visão do Brasil, por um lado sombria demais, por outro, luminosa demais. Há uma dor e também uma alegria por estar, de algum modo, fora da nova ordem mundial” . Nosso breve exame levou-nos a concluir que tal ambiguidade — verificável pelos parâmetros da aspectualidade, do andamento, da foria, da juntividade, da figuratividade, das relações métricas e melódicas — faz-se presente não somente na letra, mas na canção vista como o indissolúvel conjunto de letra e música. A manutenção dessa tensa complexidade, na medida em que possa ser vista como representativa, reforça aquela impressão emitida há tempos por Tom Jobim, que costumava dizer que “o Brasil não é para principiantes”, p. 106-107.
2. Nova ordem Mundial
Nova ordem mundial: a reorganização política internacional
Após a Guerra Fria e a bipolarização mundial entre EUA e URSS, houve uma reorganização da política internacional
Para que possamos entender a organização política atualmente, é necessário entender como se deu o seu processo histórico. Por isso, iniciaremos falando sobre como foi inaugurada uma nova ordem mundial com o fim da Guerra Fria e seus desdobramentos, com o incremento da globalização e de uma política neoliberal, além da criação de blocos econômicos e do fortalecimento de órgãos supranacionais.
A Nova Ordem Mundial
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tivemos uma organização política baseada na bipolaridade mundial entre Estados Unidos e União Soviética. Com o fim dessa Guerra Fria, foi iniciada uma nova ordem mundial, baseada não mais na bipolaridade, mas na multipolaridade.
A ordem multipolar, defendida por muitos historiadores e geógrafos, dita que o poder estaria dividido entre diversos países, como a Alemanha, os Estados Unidos, o Japão, a China, a Índia, o Brasil, dentre outros. No entanto, essa mudança de uma ordem bipolar para uma multipolar ainda enfrenta críticas. No que se refere a uma ordem cultural e militar, considera-se que existe uma ordem unipolar, liderada pelos EUA.
A globalização e o neoliberalismo
Outra importante consequência do fim da Guerra Fria foi o crescimento e fortalecimento do processo de globalização, com a expansão dos sistemas financeiros internacionais e dos produtos, devido, por exemplo, às facilidades dos transportes, além da própria expansão da internet, diminuindo as barreiras nas comunicações.
No mundo globalizado, ocorre a diminuição das barreiras nas comunicações
O neoliberalismo, que começa a crescer e ganhar notoriedade na década de 80, se expande ainda mais com o crescimento da globalização. O neoliberalismo marca o momento em que, novamente, é adotado um Estado mínimo, como percebido nos governos de Margareth Tatcher e Ronald Reagan.
Os blocos econômicos
Apesar da criação dos blocos econômicos remeter à década de 50, com a formação da Benelux, no pós-Guerra Fria esses blocos começaram a ganhar maior importância. Diante do consequente aumento da competitividade com a expansão da globalização e do neoliberalismo, foi necessária a criação de blocos como forma de proteção e fortalecimento econômico. Os principais blocos econômicos atuais são a União Europeia, o Mercosul, o Nafta e APEC.
 A ONU e o orgãos supranacionais
A ONU foi criada no fim da Segunda Guerra Mundial e tem como principal objetivo tentar representar todos os povos do mundo, em busca da paz, direitos humanos, desenvolvimento social e econômico, dentre outros objetivos. Nesse sentido, a ONU possui uma série de subdivisões para conseguir possibilitar esse objetivos, como a OMC (Organização Mundial de Comércio), a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No entanto, há intensas críticas a atuação da ONU, que seria considerada limitada por não conseguir representar efetivamente todos os países e grupos étnicos do mundo.
3. O mundo que herdamos como referencial do movimento literário romântico 
Heranças do romantismo na arte contemporânea: a representação subjetiva e a arte conceitual na produção artística atual, de Fellipe Eloy Teixeira Albuquerque
"Resumo
As contribuições do Movimento Romântico do final do século XVIII e início do XIX, caracterizadas desde a evocação do espírito de liberdade, a originalidade das obras, a imaginação individual e a criatividade sem amarras ao mundo interior do artista, há até mesmo a ênfase nas emoções e na força
terrível da natureza e principalmente pela quebra da tradição, contribuíram para uma postura diante a história da arte, ora apreciada, outrora renegada pelos movimentos artísticos posteriores. Sabendo de todo o processo de troca e permanência, esse artigo busca identificar na aproximação teórica da representação subjetividade romântica reflexões sobre o surgimento da arte conceitual contemporânea. ", p.4
" Os filósofos alemães Immanuel Kant, Friedrich Schlegel e Georg Hegel foram os principais  idealizadores do espírito romântico, porém o personagem mais expressivo tem nome francês. É atribuído a Jean-Jacques Rousseau o título de propulsor das inovações românticas ao inserir um mal-estar conceitual contra a Beleza classicista ao propor uma luta contra a degeneração humana causada pela racionalidade da época.
A retomada do termo “não sei o quê”, por Rousseau – em referência a uma Beleza que não pode ser expressa com palavras e o sentimento correspondente ao espírito do espectador –, ofereceu a Kant a oportunidade de sacramentar o ideal romântico com sua crítica ao Sublime. A Estética romântica teve seus aspectos particulares e o principal deles era a originalidade, unida com alguns outros termos antecessores e percussores: pitoresco, grotesco, lúgubre, melancólica, informe, túrbido, uma beleza perturbante e vaga. (MICHELE, 2010, p. 298-327).
Em todo caso foi o pitoresco e o sublime as duas opções de estilo favoritas entre os pintores da época em questão, baseados em uma beleza subjetiva: A poética iluminista do “pitoresco” vê o individuo integrado em seu ambiente natural,
e a poética romântica do “sublime”, o individuo que paga com a angústia e o pavor da solidão a soberba do seu próprio isolamento; mas ambas as poéticas se completam, e na sua contradição dialética refletem o grande problema da época, a dificuldade da relação entre individuo e coletividade. (ARGAN, 1992, p. 20)
O indivíduo e a coletividade estavam entre os pontos de discussão ressaltados pelos pensadores e teóricos românticos; da relação entre o universo particular e o público referente a esses termos surgiram pesquisas responsáveis por inúmeras formulações de conceitos sociológicos. A ideia de nação, que também envolve os termos, já existia e era amplamente usada desde o final do século XVII, mas só adquiriu seu sentido político moderno no mesmo período do Romantismo. Consequentemente seus principais derivados, nacionalista e nacionalismo, surgiram respectivamente no início do século XVIII e início do século XIX, com conotações negativas para o primeiro e positivas para o outro (WILLIAMS, 2007, p. 286).
Do mesmo modo a representação regional era traduzida pelos artistas românticos. Para isso criavam pinturas de paisagens, textos literários, músicas folclóricas, danças camponesas, sempre manifestações artísticas que enalteciam o lugar de origem do autor da obra, ou seja, a relação que este exercia com o meio ao qual estava inserido. Do indivíduo que agora criara uma relação com a natureza coletiva nasciam as obras-primas românticas, e na maioria das vezes de caráter subjetivo.
Entre os motivos daquilo que podemos chamar de fim do ciclo clássico e inicio do romântico ou moderno (e mesmo contemporâneo, porque chega até nós) destaque-se a transformação das tecnologias e da organização da produção econômica, com todas as consequências que comporta na ordem social e política. Era inevitável que o nascimento da tecnologia industrial, colocando em crise o artesanato e suas técnicas refinadas e individuais, provocasse a transformação das estruturas e da finalidade da arte. (ARGAN, 1992, p. 14)
Outro marco para o raciocínio romântico e moderno – por que não dizer contemporâneo – é a figura do herói. O ideal classicista que enaltecia o salvador da pátria como representante da luta pelos interesses do povo passou a ser gradualmente substituído por outros agentes sociais, membros do próprio povo, muito mais simples e menos nobres que os generais e oficiais de Estado. 
O final da epopéia napoleônica trouxe profundas consequências para arte. À queda do heroi segue-se uma sensação de vazio, o desânimo dos jovens destituídos de seus sonhos de glória (pense-se em Stendhal). O horizonte se estreita, mas intensifica-se o sentimento dramático da existência. (ARGAN, 1992, p. 28)
O reflexo desse ideal pode ser observado nas primeiras produções da comunicação para as massas. Há muitas evidências, uma em especial surgiu quando o personagem Vagabundo foi imortalizado por Charles Chaplin nas telas do cinema, o que ele fez não foi só uma sátira da condição desfavorável da vida na cidade, mas questionou o ideal de herói clássico, e consequentemente concordou com a poética romântica do sublime: “o individuo que paga com a angústia e o pavor da solidão a soberba do seu próprio isolamento” (ARGAN, 1992, p. 20).
Em outro contexto, Ferreira Gullar abordou – em sua atividade como crítico de arte em seções de revistas famosas reunidas depois em um livro recente – várias exposições de artistas contemporâneos brasileiros. Uma característica em comum de muitos desses artistas era o interesse em “captar a poesia simples, a solidão e a violência da vida marginal” (GULLAR, 2012, p. 14). Com efeito, esta foi a consequência mais evidente da quebra da tradição: os artistas sentiram-se livres para passar para o papel suas visões particulares, como até então apenas os poetas haviam feito. 
Assim, percebemos que as principais heranças românticas presentes na produção artística contemporânea estão ligadas desde a evocação do espírito de liberdade, a originalidade das obras, a imaginação individual e a criatividade sem amarras ao mundo interior do artista; há até mesmo a ênfase nas emoções e na força terrível da natureza (WOLF, 2008, p. 12-13), ou seja, na quebra da tradição – fenômeno repetido constantemente pelas vanguardas artísticas e pelo Modernismo, afinal, cada novo movimento pressupunha a superação de outro.
A problemática é discernir essa contínua influência exercida pelo Romantismo sobre os públicos, os mediadores e os artistas contemporâneos. E mobilizar assim a discussão se realmente no círculo das Artes os espectadores se reconhecem com as características da estética romântica do século XVIII e início do XIX, em contraposição às abstrações contemporâneas. Esses indivíduos contemporâneos preferem conviver visualmente com obras de estilo arcaico?", p. 06 a 08.
Depósito contemporâneo de legados do Romantismo
"O modernismo acarretou para um número grande de artistas a permanência de uma tendência estilística baseada nos legados românticos, tais como a representação subjetiva, nacionalista, saudosista e/ou religiosa. Os artistas adeptos a uma ou outra vertente influenciam até hoje nossos contemporâneos, não só artistas, mas desde espectadores a mediadores, e isso pode ser identificado em qualquer grande exposição no país.", p. 11
Lembrando:
O Romantismo é o movimento literário que domina a Europa e, por extensão de influências, o Brasil, durante o final do século XVIII e por boa parte do século XIX. Por questões teóricas, consideramos que o Romantismo começa no Brasil em 1836 (com a publicação de Suspiros poéticos e saudade, de Gonçalves de Magalhães) e termina em 1881 (com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis).
Nossa aproximação é gradativa, não desejamos esgotar o assunto. Neste momento, devemos nos concentrar nas características que, acreditamos, se aproximem mais facilmente da vivência e interesses de grande parcela dos alunos. Por isso, não enfatize obras, autores e datas, mas o modo de pensar romântico e o estilo na escrita.
O Romantismo proclama a liberdade de criação e de expressão. Tenha isso em mente durante as suas explicações. Não esgote o tema. É importante que o movimento seja visto não como uma lista de características a decorar, mas como um momento histórico-artísticocultural que dialoga com o nosso presente.
Explique brevemente, que, por questões metodológicas, dividimos o estudo do Romantismo brasileiro em três gerações:
Gerações nomes /  Principais poetas/  Principais temas
1a geração
Nacionalista ou Indianista
Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias
Exaltação da natureza; sentimentalismo; indianismo; ufanismo (exaltação da pátria) e procura da cor local (adaptação para a realidade tropical do modo de ver o mundo próprio da Europa).
2a geração
Ultrarromântica ou Mal do Século
Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela
Egocentrismo, sentimentalismo exagerado, atração pela morte, pela tristeza, pela solidão e por outros
aspectos mórbidos da vida; atitude escapista; cultivo do tédio e da melancolia; subjetivismo; idealização da morte e da mulher.
3a geração
Condoreira ou Social
Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto


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